Padilha assume Saúde com desafio de reduzir filas no SUS e conter dengue

Escolhido por Lula para substituir Nísia Trindade no Ministério da Saúde, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, herda da antecessora os desafios de entregar uma nova marca do governo, frear o aumento de casos de dengue, aumentar o atendimento especializado à população e melhorar a articulação com o Congresso.
Padilha, que já foi ministro da Saúde no governo de Dilma Rousseff, será empossado novamente na pasta em 10 de março. Lula o comunicou sobre a troca no mesmo dia em que dispensou Nísia, na última terça-feira. Ela foi demitida após um processo de fritura que durou semanas.
Lula tem exigido uma política que sirva como vitrine do governo na saúde, uma das áreas mais sensíveis para os brasileiros. Ele aposta em uma: o Programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE), que tem como meta ampliar a oferta de consultas, exames e cirurgias de diferentes especialidades médicas no Sistema Único de Saúde (SUS). O programa é uma aposta pessoal do petista desde que foi lançado, em abril de 2024, e nos últimos meses virou um dos pontos de irritação com Nísia.
O governo aposta na política pelo potencial em resolver um dos grandes problemas do paciente do SUS: o tempo de espera nas filas de tratamento. O PMAE busca reduzir as filas enfrentadas pela população nos atendimentos de oncologia, cardiologia, oftalmologia, otorrinolaringologia e ortopedia.
Hoje, se um paciente precisa de um tratamento dessas áreas, ele enfrenta contratempos e longa demora até o início da terapia. A política propõe simplificar essa espera e reduzir a quantidade de vezes que a pessoa precisa ir à unidade de saúde — mas essa mudança não acontece a curto prazo e depende de um trabalho conjunto com os estados e municípios.
Nísia chegou a apresentar os avanços do programa em sucessivas reuniões com o presidente, mas os dados não o convenceram. Ela chegou a ser cobrada por Lula em mais de uma ocasião pelos passos lentos da iniciativa. O programa chegou a todo o país no final do ano passado, e alcançou 99% dos municípios só em fevereiro, dez meses após ter sido lançado. Agora, Padilha precisa correr contra o tempo para levar resultados que Lula considere suficientes.
Dengue e vacinação
Padilha ainda deverá lidar com dois assuntos sensíveis que acrescentaram para o desgaste de Nísia na Saúde, como o aumento da dengue, que costuma se expandir ainda mais no primeiro semestre do ano, e a vacinação.
No ano passado, tanto o número de casos de dengue quanto o de mortes causadas pela doença bateram recorde. Segundo dados da Saúde, os primeiros 50 dias de 2025 apresentaram uma redução de 65% nas infecções pela doença, comparando ao mesmo período de 2024 — 440 mil contra 1,2 milhão. No entanto, os números deste ano ainda são significativamente maiores que os do mesmo período em 2023, quando foram registrados 194,6 mil casos.
O ministro da SRI assume a Saúde logo no período do ano propício para o vírus, com calor e chuvas. Ele deverá fortalecer ainda mais os métodos de combate ao mosquito para que a doença não venha a bater um novo recorde em 2025.
Padilha não pode contar ainda com a vacinação em massa da população contra a dengue, já que não há possibilidade de produção de imunizantes em larga escala. Isso só será possível em 2026, quando a vacina brasileira do Instituto Butantan será disponibilizada no SUS.
O novo ministro tem ainda o desafio de reverter o cenário de baixa procura pela vacinação que previne outras doenças e evitar novos desperdícios de imunizantes que ficam parados nos depósitos da pasta. Conforme o GLOBO mostrou no ano passado, o governo federal deixou vencer 58,7 milhões de imunizantes desde a posse de Lula como presidente em 2023, um gasto de R$ 1,75 bilhão aos cofres públicos.
Hospitais federais
O novo ministro da Saúde também deverá dar atenção à administração dos hospitais federais do Rio de Janeiro, que protagonizaram crise envolvendo denúncias de irregularidades na gestão em 2024.
Lula chegou a falar publicamente, em dezembro do ano passado, que era preciso tratar com "respeito" os hospitais federais do Rio e que, se o governo federal não conseguisse cuidar, era preciso procurar um jeito melhor de administrá-los.
Em uma ação do Plano de Reestruturação dos Hospitais Federais do Rio de Janeiro, conduzido pelo Ministério da Saúde, o presidente reinaugurou em fevereiro a emergência do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), fechada por cinco anos.
Congresso e comunicação
Na conversa que selou sua saída, Nísia escutou do presidente que a troca seria necessária para melhorar a relação com o Congresso Nacional. A articulação com parlamentares foi um ponto que a desgastou durante sua gestão à frente de um dos ministérios com o maior orçamento da Esplanada, sobretudo em relação aos pagamentos de emendas parlamentares pela pasta.
Nísia foi pressionada em diferentes momentos pela classe política, principalmente pelo Centrão para liberação de verbas. Congressistas reclamavam que não eram recebidos com frequência e relataram dificuldades para conseguir recursos para as bases. O tema também deverá ser espinhoso para Padilha, tendo em vista que o ministro das Relações Institucionais não tem uma boa relação com integrantes do Centrão, como o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) que o considera um "desafeto".
O presidente também disse a ela que a substituição visa melhorar a comunicação do governo. Em um momento de baixa popularidade, fortalecer a comunicação e alcançar a população de maneira assertiva tornou-se o foco de Lula.
Na quarta-feira, pesquisa da Quaest mostrou que a desaprovação do petista superou a marca de 60% nos três maiores colégios eleitorais do Brasil (RJ, SP e MG), cerca de duas semanas após o Datafolha apontar que a avaliação positiva da gestão caiu 11 pontos em dois meses e alcançou o pior resultado dos três mandatos.
Na quinta-feira, ao falar sobre a substituição da ministra, Lula declarou que ela é uma “companheira da mais alta qualidade”, mas que precisa de mais agressividade e rapidez nas políticas do governo. Ele acrescentou que não pode fazer trocas por um “jogador que jogue menos”:
— Por isso estou fazendo algumas trocas. Eu espero que depois do Carnaval eu conclua o que eu tenho que mudar, porque não é só escolher quem você tira, mas quem vai entrar. Se você coloca um jogador que vai jogar menos do que quem saiu, você errou.