Puxada pelo emprego, renda das famílias cresce e indica redução da desigualdade

O crescimento da renda domiciliar por pessoa no Brasil, divulgado pelo IBGE na última sexta-feira, reforça a expectativa de um avanço econômico mais inclusivo, com redução da desigualdade. Em 2023, mesmo com a forte expansão da renda, a desigualdade permaneceu estagnada. Agora, os dados indicam um cenário mais favorável, segundo economistas.
Esse movimento já vinha sendo observado nos dados de rendimento médio trimestral dos estados. De acordo com Marcelo Neri, diretor da FGV Social, a renda domiciliar per capita do trabalho cresceu 7,08% no quarto trimestre de 2024, já descontada a inflação, em relação ao mesmo período de 2023. No Nordeste, esse avanço foi ainda maior, chegando a 13%, mesmo em um contexto de inflação e dólar elevados.
Esse indicador mede apenas a renda do trabalho, tanto formal quanto informal, sem incluir benefícios sociais, como o Bolsa Família. Segundo Neri, a grande novidade dos novos dados é a queda da desigualdade, que, embora estivesse no menor nível da série em 2023, ainda empatava com 2022.
Mesmo sem um crescimento da renda tão expressivo quanto no ano anterior, a expansão superou o PIB e trouxe sinais concretos de redução da desigualdade. Em termos reais, o rendimento médio por pessoa, ajustado pela inflação, cresceu 4,7% em 2024. A renda da metade mais pobre da população subiu 10,7%, enquanto a chamada "nova classe média baixa" teve um aumento de 8,7%, e os 10% mais ricos viram seus rendimentos crescerem 6,7%.
O crescimento da renda do trabalho foi impulsionado pela redução do desemprego, que contribuiu com 3,9 pontos percentuais desse avanço. Outros fatores incluem o aumento da jornada de trabalho, a maior participação no mercado e a expansão da educação e seus retornos.
Para Neri, os dados mostram que a melhoria na renda não se deve apenas a programas sociais, mas também ao dinamismo do mercado de trabalho. No entanto, ele alerta que ainda é cedo para fazer projeções definitivas para 2025, especialmente devido ao impacto da política monetária:
— O mercado de trabalho segue aquecido, mas precisamos aguardar novos dados, pois a alta da taxa básica de juros pode trazer efeitos defasados.
Emprego impulsiona crescimento da renda das famílias
Com um crescimento real da renda per capita de 4,7% em 2024, a renda das famílias vem avançando acima do crescimento da economia, projetado em torno de 3,5% para o ano. Segundo Marcos Hecksher, economista do Ipea, esse aumento tem sido puxado principalmente pelo emprego, e não pelos programas de transferência de renda, como ocorreu em 2023, quando o Bolsa Família teve um papel mais determinante na elevação da renda das famílias.
Em 2024, a massa de rendimento do país cresceu 5,2% em termos reais, mas, quando considerada apenas a renda do trabalho, o crescimento foi ainda maior, chegando a 6,4%.
— O trabalho tem sido o principal fator de aumento da renda familiar, ao contrário de 2023, quando o Bolsa Família teve um impacto mais significativo — explica Hecksher.
Apesar desse avanço, ele alerta para possíveis riscos de desaceleração do emprego em 2025, principalmente devido à manutenção dos juros elevados, estratégia usada para conter a inflação. Para que o Brasil sustente o crescimento da renda sem comprometer o emprego, ele defende um aumento da produtividade:
— O ideal é elevar a produtividade sem reduzir empregos. Isso pode ser feito por meio do crescimento econômico sustentável.
A longo prazo, recuperar o terreno perdido em relação à economia global também é um desafio. Em 2011, o Brasil estava 12,9% acima da média mundial em PIB per capita ajustado pela paridade do poder de compra. Já em 2021, esse indicador caiu para 8,4% abaixo da média global. Se as projeções do FMI se confirmarem, essa diferença deve ser reduzida para 7,5% em 2024.