Cristiane Souza, atual presidente da marca de azeite Gallo no Brasil, acumula mais de 25 anos de experiência profissional, grande parte deles na área comercial. Durante sua trajetória, ela recebeu um conselho de um líder que segue sendo um norte em sua carreira: "Espere. Nada melhor do que a empresa inteira achar que você está pronto. Quando você mudar, ninguém vai questionar sua capacidade." Na época, ela desejava assumir mais responsabilidades, mas esse conselho a ensinou a confiar no tempo certo e a evitar a armadilha da ansiedade, permitindo uma ascensão profissional sólida e constante.

Hoje, Cristiane é a primeira mulher e a primeira brasileira a liderar a Gallo no Brasil, uma empresa centenária de Portugal. Sua trajetória é marcada por resiliência, disciplina e pela convicção de que o crescimento profissional exige não apenas estratégia e tempo, mas também preparação para alcançar o topo.

Superação e Resiliência

Cristiane sempre acreditou que o potencial de cada pessoa está dentro de si, e que ninguém deveria ser desviado do caminho em razão de sua origem ou condição. Nascida em Umuarama, no Paraná, ela teve uma infância difícil. Perdeu o pai quando tinha apenas 11 meses, e sua mãe, muito jovem, precisou da ajuda da família para sustentar a casa até conseguir um emprego em um banco.

Sem acesso fácil às grandes oportunidades, Cristiane estudou em escolas públicas até a sétima série e contou com a ajuda da tia para pagar o ensino médio. Para ingressar na faculdade, solicitou um crédito estudantil e utilizou seu salário de estágio para bancar parte do curso de Administração na PUC-SP.

Apesar das dificuldades, Cristiane tem sua mãe como grande inspiração. "Ela me ensinou que podemos ser o que quisermos, mas é preciso construir isso", conta.

Entrada no Mercado de Trabalho

Seu primeiro estágio foi na Ford, no setor de RH, mas a grande oportunidade surgiu quando foi indicada para a área de vendas da Unilever. Sem o status de trainee, levou entre 5 e 7 anos para conquistar sua primeira posição de liderança na empresa.

"Você molda sua vontade de progredir. A resiliência nasce da necessidade de buscar o seu espaço", afirma Cristiane.

Ela foi promovida duas vezes a diretora após suas licenças-maternidade, um feito raro no mercado corporativo. Nos últimos anos de sua carreira na Unilever, liderou a spin-off Compra Agora, uma distribuidora digital da empresa, onde teve a oportunidade de gerenciar um negócio completo. Essa experiência a preparou para assumir a presidência da Gallo no Brasil após 25 anos na Unilever.

Desafios e Conquistas na Gallo

A Gallo enfrentou desafios em 2023 devido ao aumento nos preços da safra, o que impactou toda a categoria de azeites. Mesmo assim, manteve sua liderança no Brasil. Para Cristiane, momentos de crise podem ser oportunidades disfarçadas.

"Muitas marcas param de investir em tempos difíceis. Nós fizemos o contrário: lançamos novos produtos, apostamos em marketing e mostramos ao consumidor o valor do azeite", diz ela.

Sob sua liderança, a Gallo expandiu sua linha de produtos, com a criação da Casa Gallo, que inclui azeitonas, vinagres e molhos de pimenta, diversificando a atuação da marca. Ela também investe, desde 2024, R$ 20 milhões em comunicação para promover a categoria premium de azeites, que no Brasil representa apenas 7% do mercado, enquanto na Europa chega a mais de 15%.

O Mercado e o Futuro da Gallo

Fundada em Portugal em 1919 por Victor Guedes, a Gallo tem se consolidado globalmente, com presença em mais de 40 países. No Brasil, o país representa 60% do faturamento global da marca, que superou Portugal em consumo. A Gallo aposta na categoria premium, com a expectativa de que o mercado brasileiro, atualmente dominado por azeites convencionais, cresça e alcance 15% da participação, como ocorre em Portugal.

Apesar da alta dos preços nos últimos anos, a expectativa para 2024 é de que os preços se estabilizem entre R$ 30 e R$ 35. A Gallo projeta um crescimento de 20% nas vendas no Brasil em 2025.

Liderança Feminina e Legado

Cristiane Souza, como a primeira mulher e brasileira a ocupar o cargo de presidente da Gallo no Brasil, já viu a liderança feminina na empresa crescer para 40%, com a meta de alcançar 50% nos próximos anos. A Gallo também assinou o Pacto Global da ONU para empoderamento feminino.

"Quero que as mulheres vejam que é possível chegar ao topo. Contar minha história é mostrar que podemos ir longe, mesmo sem um caminho traçado desde o início", afirma Cristiane.

Como líder, ela busca construir um ambiente de autonomia para sua equipe, incentivando a inovação e o senso de propósito entre os colaboradores.

"Quero deixar um legado de protagonismo. Na Gallo, cada um pode transformar seu trabalho em um grande projeto. Isso faz a diferença", diz ela. "Uma das lições que aprendi é que acreditar que é possível é o primeiro passo para conquistar o impossível."