China, Canadá e México revidam tarifas de Trump e ampliam guerra comercial

O GLOBO
China, Canadá e México revidam tarifas de Trump e ampliam guerra comercial Reprodução

A China anunciou nesta terça-feira que vai impor tarifas adicionais de 10% e 15% sobre várias importações de alimentos dos EUA, como soja, trigo e frango, depois que o governo Trump dobrou a tarifa geral sobre todas as exportações chinesas.

“Tarifas adicionais de 15% serão impostas sobre frango, trigo, milho e algodão”, informou o Ministério das Finanças. Tarifas adicionais de 10% também serão impostas sobre sorgo, soja, carne suína, carne bovina, produtos aquáticos, frutas, vegetais e laticínios”, acrescentou. Além disso, Pequim proibiu o comércio com algumas empresas de defesa.

O Canadá também reagiu à entrada em vigor das tarifas, anunciando que vai taxar 25% sobre um total de US$ 107 bilhões em produtos dos Estados Unidos, começando imediatamente com tarifas sobre US$ 21 bilhões em bens de exportadores americanos, como suco de laranja, pasta de amendoim, vinho e café, além de taxas sobre carros, caminhões, aço e produtos de alumínio que entraram em vigor simultaneamente com as tarifas americanas.

Em três semanas, uma segunda rodada de tarifas do mesmo valor será imposta sobre 125 bilhões de dólares canadenses em produtos, incluindo itens de alto valor, como automóveis, caminhões, aço e alumínio.

Nesta terça, após a entrada em vigor das tarifas, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, disse que Trump busca minar “a economia canadense” para depois “falar em anexação” do país.

Nesse contexto, “não sei que negociação poderíamos ter” com os Estados Unidos, disse o chefe de governo canadense, que acrescentou que o pretexto da entrada de fentanil pelas fronteiras, que Trump usou para justificar as tarifas contra o Canadá, é “completamente injustificado” e chamou a decisão de "estúpida".

Os Estados Unidos “lançaram uma guerra comercial” e o Canadá “não recuará”, acrescentou o primeiro-ministro, poucas horas depois que as medidas alfandegárias de Donald Trump entraram em vigor.

Com as tarifas, Trump pressionou o Canadá e o México a aumentar a vigilância nas fronteiras. Ambos os países tomaram medidas no último mês, mas isso não satisfez o magnata republicano.

As tarifas afetarão mais de US$ 918 bilhões em importações dos EUA provenientes do Canadá e do México.

Em sua entrevista diária à imprensa, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, disse que “não há motivo, razão ou justificativa” para as tarifas de 25% impostas pelo governo de Donald Trump sobre as importações de produtos mexicanos.

“Somos enfáticos, não há motivo, razão ou justificativa que sustente essa decisão que afetará nossos povos e nações”, disse.

Sheinbaum afirmou ainda que o governo está preparando medidas “tarifárias e não tarifárias” em retaliação à taxação de 25% impostas pelo governo de Donald Trump.

“Decidimos responder com medidas tarifárias e não tarifárias que anunciarei em público no próximo domingo”, anunciou.

Produtos que provavelmente serão afetados pelas tarifas de Trump — Foto: Reprodução

Produtos que provavelmente serão afetados pelas tarifas de Trump — Foto: Reprodução


A presidente mexicana afirmou que usará a praça principal da Cidade do México, o Zocalo, para reunir seus apoiadores ao meio-dia e detalhar as medidas. O peso mexicano caiu até 1,5% em relação ao dólar americano.

A China anunciou também que entrou com uma ação na Organização Mundial do Comércio contra a tarifa adicional de 10% imposta pelos Estados Unidos sobre os produtos chineses, de acordo com um comunicado do Ministério do Comércio.

O ministério disse que o último aumento de tarifa da Casa Branca viola seriamente as regras da OMC e prejudica a base da cooperação econômica e comercial entre a China e os EUA.

Pouco antes da China anunciar as medidas retaliatórias, o porta-voz do Congresso Nacional do Povo, Lou Qinjian, em entrevista, disse que os EUA violaram as regras da Organização Mundial do Comércio ao impor tarifas unilaterais, acrescentando que a China espera que os dois países possam encontrar uma solução por meio do diálogo.

Embora os dois países possam discordar, “o importante é respeitar os interesses centrais e as principais preocupações de cada um e encontrar uma solução adequada”, disse Lou. “Nunca aceitamos nenhum ato de pressão ou ameaça e defenderemos firmemente nossa soberania, segurança e interesses de desenvolvimento.”

Em fevereiro, a China também contestou na OMC a medida anterior dos EUA de adicionar uma tarifa de 10% sobre os produtos chineses. No entanto, o mecanismo da OMC para resolver disputas comerciais tem sido efetivamente inoperante desde o primeiro mandato do presidente Trump.

A resposta chinesa joga a bola de volta para o campo dos EUA, com a revisão de Trump sobre a conformidade de Pequim com o primeiro acordo comercial, prevista para abril, aumentando a urgência da negociação. Embora Trump tenha sinalizado o desejo de falar com o presidente Xi Jinping no início do mês passado, eles ainda não tiveram uma conversa desde que o líder dos EUA assumiu o cargo.

“Até o momento, a China deu uma resposta comedida e proporcional, pois não quer agravar ainda mais a situação”, disse Henry Gao, professor de direito da Singapore Management University que pesquisa as políticas comerciais chinesas. “Quando as medidas de abril forem divulgadas, é provável que a China negocie com os EUA.”

As tarifas chinesas, que entrarão em vigor em 10 de março, atingem os EUA, que também impuseram tarifas ao México e ao Canadá. Trump está ameaçando outras ações contra a União Europeia e outros países, aumentando a incerteza e os custos crescentes para empresas e consumidores em todo o mundo.

As últimas investidas comerciais ocorreram um dia antes de Xi se dirigir à maior reunião política do governo deste ano, onde será anunciado o plano econômico para 2025. A expectativa é que sejam criadas políticas que impulsionem o consumo interno para compensar as perdas esperadas em suas exportações, que contribuíram com quase um terço do crescimento da economia no ano passado.


Agricultura na mira

A China rebateu as novas imposições de Trump com uma combinação de tarifas e outras medidas. Pequim cobrará 15% de tarifas sobre produtos alimentícios e agrícolas americanos, incluindo frango e algodão, enquanto soja, carne bovina e frutas estão entre os produtos que enfrentarão uma tarifa de 10%, de acordo com um anúncio do Ministério das Finanças.

As tarifas chinesas afetam algumas das mais importantes exportações agrícolas dos EUA para a China e ocorrem no momento em que os agricultores americanos estão a semanas de plantar a safra da próxima temporada.

Entre os produtos americanos afetados, a soja se destaca como uma das principais exportações para a China, com quase metade dos embarques dos EUA indo para o gigante asiático no ano passado. Os futuros da soja caíram cerca de 0,6% em Chicago.

O Ministério do Comércio da China anunciou que adicionará 10 empresas americanas, a maioria envolvida em trabalhos de defesa, à "lista de entidades não confiáveis". Além disso, colocou 15 empresas, incluindo as contratantes de defesa General Dynamics Land Systems e Skydio, em uma lista de controle de exportação.

Embora a maioria dessas empresas provavelmente não venda muito para os mercados chineses, as restrições dificultarão a compra de peças ou produtos fabricados na China que são essenciais para bens como drones. Algumas dessas empresas já haviam sido atingidas por sanções chinesas.

A China também proibiu a importação de máquinas de sequenciamento genético da Illumina. O país já havia adicionado a empresa à lista de entidades não confiáveis em fevereiro, junto com a PVH, proprietária da Calvin Klein.

O governo chinês retaliou poucas horas depois de Trump assinar uma ordem executiva para o aumento das tarifas, alegando que a China fez muito pouco para impedir o fluxo de fentanil ilícito para os EUA. Mais tarde, nesta terça-feira, Pequim divulgou um livro branco afirmando que controla rigorosamente a produção e exportação da droga e de seus precursores.

Até agora, as contramedidas da China, incluindo sua resposta à tarifa de 10% imposta no mês passado, têm sido muito mais moderadas do que durante a primeira guerra comercial entre os dois países, em 2018 e 2019.

Naquela época, Pequim impôs tarifas pesadas sobre produtos agrícolas essenciais dos EUA, fazendo com que as vendas de soja americana para a China caíssem quase 80% em dois anos, e o Brasil assumindo grande parte desse comércio.

O banco central chinês também permitiu que o yuan se desvalorizasse em 11,5% nesse período, ajudando a compensar parte do impacto das tarifas americanas, mas gerando acusações de manipulação cambial.

As ações de ambos os países podem não ser os últimos golpes ao comércio global, já que os EUA anunciaram que vão impor tarifas sobre todas as importações de metal na próxima semana e que vão adotar novas medidas em abril para reduzir o déficit comercial americano.

"As medidas ainda são relativamente moderadas por enquanto", disse Lynn Song, economista-chefe para a Grande China no ING Bank. "Acho que essa retaliação mostra que a China continua paciente e evitou ‘virar a mesa’, por assim dizer, apesar da recente escalada."








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