Trump faz ameaça de morte contra povo de Gaza: ‘pagarão um preço alto’

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou nessa quarta-feira a população de Gaza com a morte, caso não sejam libertados os reféns remanescentes da guerra entre Israel e Hamas. Ele também alertou os líderes do grupo islamista para deixarem o território enquanto ainda puderem.
"Aos habitantes de Gaza: um futuro maravilhoso os espera, mas não se ainda mantiverem reféns. Se o fizerem, vocês estão MORTOS! Façam uma escolha INTELIGENTE. LIBERTEM OS REFÉNS AGORA, OU PAGARÃO UM PREÇO ALTO DEPOIS!", escreveu o republicano em sua rede Truth Social.
Trump exigiu que o Hamas "devolva imediatamente todos os corpos das pessoas que assassinou" durante o ataque contra Israel em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra.
"Este é o seu último aviso! Para os líderes (do Hamas), agora é o momento de deixar Gaza, enquanto ainda têm uma chance", acrescentou. "Estou enviando a Israel tudo o que precisa para terminar o trabalho, e nenhum membro do Hamas estará seguro".
O chefe da diplomacia dos EUA, Marco Rubio, afirmou em entrevista à Fox News que Trump não estava brincando. "Ele não diz esse tipo de coisa se não estiver falando sério, como o mundo inteiro pode ver. Se ele diz que vai fazer algo, ele vai fazer", declarou. "Então, é melhor que levem isso a sério", acrescentou, dirigindo-se ao Hamas.
As ameaças do presidente, que se reuniu na quarta-feira com familiares dos reféns, coincidem com a confirmação de que os Estados Unidos e o grupo islamista mantiveram contatos diretos.
Essa posição rompe com a antiga política de Washington de não dialogar diretamente com organizações que considera terroristas, como é o caso do Hamas.
'Ainda não acabou'
Questionada sobre essas conversas, reveladas pelo site Axios, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, respondeu que o enviado especial dos EUA, Adam Boehler, tem "autoridade para falar com qualquer um".
— Israel foi consultado sobre esse assunto — acrescentou, sem dar detalhes sobre o conteúdo das reuniões, ressaltando que "vidas de cidadãos americanos estão em jogo".
"O governo israelense expressou sua opinião sobre as conversas diretas com o Hamas durante as consultas com os EUA", afirmou o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Líderes do Hamas também confirmaram os contatos.
- Houve várias comunicações entre o Hamas e diferentes canais dos EUA, a mais recente com um enviado americano, e foi discutida a questão dos prisioneiros israelenses com cidadania americana, tanto os vivos quanto os falecidos - declarou um dirigente do grupo sob anonimato.
Segundo o Axios, Boehler se encontrou com autoridades do Hamas nas últimas semanas em Doha para tratar da libertação de cinco reféns americanos, dos quais quatro estariam mortos, de acordo com um levantamento da AFP.
Apesar dos contatos, o chefe do Estado-Maior israelense, Eyal Zamir, afirmou na quarta-feira que o objetivo de eliminar o Hamas em Gaza "ainda não foi alcançado", o que coloca em dúvida a trégua vigente no território palestino. Por sua vez, Netanyahu limitou-se a dizer que está "determinado a vencer".
Israel lançou sua ofensiva militar na Faixa de Gaza após o ataque de 7 de outubro de 2023, no sul do país, realizado por membros do Hamas, que deixou 1.218 mortos.
O grupo capturou 251 reféns e os levou para Gaza. No momento, 58 seguem em cativeiro, sendo que 34 estariam mortos, segundo o Exército israelense.
A operação militar israelense resultou na morte de pelo menos 48.440 pessoas em Gaza, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
A fome como 'arma de guerra'
Em 19 de janeiro, entrou em vigor um acordo de trégua mediado por Catar, Egito e Estados Unidos.
Esse pacto, no entanto, está por um fio, pois Israel e Hamas divergem sobre como mantê-lo após a expiração da primeira fase. No período inicial, o Hamas libertou 33 reféns e Israel soltou cerca de 1.800 palestinos.
Israel quer estender essa fase até meados de abril, exigindo a "desmilitarização total" do território palestino, a saída do Hamas de Gaza e a libertação de todos os reféns antes de avançar para uma nova etapa.
Já o Hamas quer passar para a segunda fase do acordo, que prevê um cessar-fogo permanente.
Em meio a essas divergências, Israel anunciou no domingo a suspensão da entrada de ajuda humanitária em Gaza, uma medida denunciada na noite de quarta-feira na ONU por França e outros quatro países, que pediram a autorização "incondicional e em grande escala" da assistência humanitária.