Direita dá sinais de união com anúncio de Caiado e agenda com Gusttavo Lima

Ainda desorganizado e dividido para o pleito de 2026, o campo político da direita começa a encaminhar acordos para enxugar o número de postulantes e chegar competitivo no próximo ano. Inelegível, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mantém seu nome no páreo, mas já deu indicações de que pode dar a benção a um dos seus filhos. Na quarta-feira, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), afirmou que iniciará em abril a pré-campanha à Presidência ao lado do cantor Gusttavo Lima, com viagens a diferentes estados do país. A ideia é apresentar uma única chapa com ambos — a cabeça e a vice seriam definidas mais à frente.
Sem apoio de partidos relevantes, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), conta com o marqueteiro Renato Pereira na tentativa de nacionalizar o seu nome e marcá-lo como um “outsider”. Já o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem indicado que deve concorrer à reeleição, e só se aventuraria em uma disputa pelo Planalto com o aval de Bolsonaro — ainda não há indícios de que isso ocorrerá. Outro possível nome, o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), também só deve ter viabilidade, segundo aliados, se receber a indicação de Bolsonaro.
Em outra raia, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), considerado inelegível há duas semanas, deve ter dificuldades para reverter condenações na Justiça Eleitoral e se encaminha para ficar de fora das urnas.
'Andaremos juntos'
De acordo com Caiado, principal nome do União Brasil, ele e Gusttavo Lima serão anunciados juntos como pré-candidatos em Salvador. A ideia é que a imagem de ambos permaneça atrelada e as posições de postulante principal e vice sejam definidas posteriormente, conforme análises das próximas pesquisas eleitorais.
— Vamos sair juntos para disputar a Presidência. Em 2026, vamos decidir (quem será vice). Dia 4 de abril vou receber o título de cidadão baiano e vou lançar minha pré-candidatura. O Gusttavo Lima estará lá e vamos juntos caminhar os estados — diz Caiado. — As decisões serão tomadas no decorrer da campanha. Mas uma decisão está tomada: nós andaremos juntos.
Em pesquisa Genial/Quaest divulgada no início de fevereiro, o cantor sertanejo apareceu como o nome com melhor desempenho em um eventual segundo turno contra Lula: 41% a 35%, enquanto Caiado apareceu com 26% contra 45% do petista. Nos quatro cenários de primeiro turno testados para presidente, Lula também aparece à frente, variando de 28% a 33% dependendo do adversário. Lima vai 12% a 18%, enquanto o governador de Goiás marca 3% e 4%.
Apesar de dizer que a parceria está garantida, o governador afirmou que Gusttavo Lima ainda não definiu se irá se filiar ao União Brasil. De acordo com Caiado, a chapa será concretizada mesmo que o cantor decida se filiar a outra legenda.
— Ele vai decidir (sobre o partido) no tempo dele, só no próximo ano — afirmou.
Integrantes da cúpula do União Brasil confirmam que está em avaliação uma pré-candidatura conjunta, mas dizem que Gusttavo Lima segue em dúvida em relação à filiação ao partido.
Uma conversa entre lideranças da sigla, o cantor e Caiado deve ocorrer na semana que vem. Pablo Marçal também deve participar do diálogo.
Pessoas próximas a Lima afirmam que o cantor tem afirmado sentir um “chamado de Deus” para entrar na política e contam que ele já vem dividindo as agendas da música com os compromissos de articulações políticas.
Na quarta-feira, Gusttavo Lima se reuniu em Santa Catarina com o empresário Luciano Hang, dono da Havan, que apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro em 2018 e 2022.
“Um encontro super bacana com esse cara vencedor” , disse Gusttavo Lima nas redes sociais. Em vídeo publicado lado a lado, em um hangar de aeroporto, o empresário comemorou a visita do cantor.
Obstáculos à vista
A articulação de Caiado e parte do União Brasil, porém, esbarra na resistência da ala governista do partido. Os três ministros de Luiz Inácio Lula da Silva indicados pela sigla dizem que vão trabalhar para o partido apoiar eventual candidatura à reeleição do presidente. Integram a Esplanada Celso Sabino, do Turismo, Juscelino Filho, de Comunicações, e Waldez Góes, da Integração Nacional, que é filiado ao PDT, mas é aliado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
A chapa Caiado e Lima ainda deve enfrentar resistência dentro da direita. Bolsonaro insiste em manter sua pré-candidatura, mesmo estando inelegível.
Na semana passada, o senador Ciro Nogueira, presidente do PP e um dos principais articuladores do Centrão, alertou Bolsonaro que a sua estratégia de se apresentar como candidato deve levar um de seus filhos, o senador Flávio ou o deputado Eduardo, a disputar contra Lula.
Segundo ele, para que Tarcísio ou Ratinho Júnior se tornem alternativas viáveis, ele precisa definir seu apoio ainda este ano.
— A definição do candidato cabe ao presidente Bolsonaro. Já disse pra ele: se ele tiver que apoiar o governador Tarcísio ou Ratinho, ele tem que decidir este ano. Se insistir no próximo ano, quem vai ser candidato é ele ou um dos seus filhos — disse Ciro Nogueira em evento do BTG Pactual.
Em janeiro, durante entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro chegou a citar Eduardo ou Flávio como possíveis postulantes, além da ex-primeira-dama Michelle. No mesmo dia, contudo, o ex-presidente negou que Michelle pudesse concorrer ao Executivo. O ex-presidente afirmou que ela será candidata ao Senado.
Embora tenha pouca tração em pesquisas e esteja isolado, Zema aposta no estrategista que encabeçou campanhas vitoriosas para o ex-governador de seu estado Aécio Neves e para os fluminenses Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão. O desafio será montar uma nova identidade, alinhada à direita moderada, mas sem perder o apelo do bolsonarismo. Em entrevista ao GLOBO, Zema defendeu o ex-presidente, mas reconheceu que a indefinição sobre 2026 atrapalha:
— Essa indefinição sobre ele ser ou não candidato, com toda certeza, acaba postergando essa decisão, e o trabalho que já poderia estar acontecendo.
Pesquisa Genial/Quaest divulgada em dezembro mostra que os governadores que postulam o Palácio do Planalto possuem boa avaliação em seu redutos. Quem desponta com o melhor índice é Caiado, que tem seu mandato aprovado por 88% da população de Goiás. Em seguida, Ratinho Júnior tem o endosso de 81% e Zema, de 64%. A menor avaliação entre os governadores de direita é a de Tarcísio, com 61%.
Movimentos de outros cotados
- Tarcísio de Freitas: Filiado ao Republicanos e com gestão bem avaliada em São Paulo, o governador nega publicamente que tenha a intenção de disputar a Presidência e tem reafirmado seu apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que está inelegível, de olho no seu eleitorado. A aliados, porém, Tarcísio admite que pode concorrer ao Planalto, como mostrou o colunista Lauro Jardim.
- Romeu Zema: Desconhecido fora de Minas Gerais, segundo pesquisas recentes, e em segundo mandato de governador, Romeu Zema (Novo) também planeja disputar a Presidência. Recentemente, passou a trabalhar no projeto de voo nacional com o marqueteiro Renato Pereira, estrategista que encabeçou campanhas vitoriosas de Aécio Neves e Sérgio Cabral.
- Família Bolsonaro: A família Bolsonaro tem dado sinais desencontrados sobre 2026. O ex-presidente tem insistido em uma candidatura, apesar de estar inelegível. Bolsonaro já levantou a possibilidade de Michelle disputar o Planalto, mas recuou. Já o deputado Eduardo Bolsonaro chegou a dizer que poderia ser o “plano B” do PL em uma entrevista,mas foi desautorizado pelo pai.
- Ratinho Jr.: Também com o desafio de se tornar mais conhecido nacionalmente, o governador do Paraná é a aposta do PSD para a disputa de 2026. Ratinho Jr. tem pressionado a legenda para lançar sua pré-candidatura, em oposição a Lula, até maio. O presidente da sigla, Gilberto Kassab, fez críticas recentes à gestão do petista, apesar de o PSD ocupar três ministérios.