Biólogo do IF Goiano é suspeito de falsificar revisões científicas em revista internacional

Um biólogo do Instituto Federal Goiano (IF) de Urutaí é suspeito de falsificar pelo menos 34 revisões científicas vinculadas a publicações internacionais. O caso de possível fraude é divulgado pela renomada revista Science e gera repercussões internacionais. Em Goiás, a instituição analisa o assunto por meio de uma comissão investigadora que definirá os rumos legais e éticos a serem atribuídos ao professor, ligado ao Departamento de Ciências Biológicas do referido campus.
O procedimento questionado é a revisão por pares, processo essencial para a validação científica, que envolve a análise de especialistas independentes. A acusação é de que professor Guilherme Malafaia Pinto teria criado e-mails falsos com nomes de outros cientistas para se passar por revisor de seus próprios artigos e garantir sua aprovação na revista Science of The Total Environment (Stoten). O docente, por outro lado, nega envolvimento em fraudes.
Conforme a plataforma Retraction Watch, especializada no acompanhamento de artigos científicos cancelados, Malafaia teve 34 estudos retratados, todos originalmente publicados na Stoten. Segundo a publicação, as supostas fraudes não exigiram estratégias complexas para concretização, pois a própria Stoten pediu a Malafaia sugestões de possíveis revisores.
Em quase todos os casos, Malafaia tinha coautores, mas era o “autor correspondente”, responsável pelo contato com os editores. A descoberta das irregularidades aconteceu em novembro de 2024 e veio à tona no início de dezembro do mesmo ano.
Biólogo do IF Goiano acusado de falsificar revisões científicas afirma que teve e-mail hackeado
Em sua defesa, Malafaia expressou preocupação com as acusações, citando ataques sofridos por seus familiares e coautores desde a divulgação das retratações. Ele afirma que pode provar que sua conta de e-mail foi hackeada e sugere que o objetivo da fraude seria minar a credibilidade do sistema de revisão por pares.
Malafaia também compartilhou uma carta de 28 páginas escrita em inglês, em que menciona o “impacto devastador que as acusações tiveram na carreira e vida pessoal”. “Afetaram minha família, alunos e colegas que confiaram no meu trabalho. Essas ações questionam anos de dedicação à pesquisa e ao ensino, refletindo a fragilidade de um sistema que deveria garantir justiça e imparcialidade”.
Ele acrescenta que não está acusando ninguém, mas busca compreender e dialogar sobre a situação que considera injusta e desproporcional.
Atualmente, Malafaia é professor no Departamento de Ciências Biológicas do Campus de Urutaí, no IF Goiano. É mestre em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e pela Universidade Federal de Goiás (UFG), e concluiu sete estágios de pós-doutorado em instituições no Brasil e no exterior. A Elsevier, editora do periódico Stoten, decidiu retirar os artigos de Malafaia da publicação e está investigando mais 13 estudos de sua autoria.