Com força dos serviços, PIB do Brasil cresce 3,4% em 2024

Brasil registra crescimento de 3,4% na economia em 2024, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este resultado representa o maior avanço anual do Produto Interno Bruto (PIB) desde 2021.
O PIB brasileiro alcançou R$ 11,7 trilhões em 2024, com o PIB per capita atingindo R$ 55.247,45, um aumento real de 3% em relação a 2023.
O consumo das famílias expandiu 4,8% no ano, impulsionado pelos programas de transferência de renda do governo, pela melhoria nas condições do mercado de trabalho e por taxas de juros médias mais baixas que em 2023, apesar da elevação no final do ano.
As despesas governamentais apresentaram crescimento de 1,9%. No comércio internacional, as importações de bens e serviços registraram expressivo aumento de 14,7%, enquanto as exportações cresceram 2,9%.
A taxa de investimento alcançou 17% do PIB em 2024, superando os 16,4% registrados no ano anterior. Por outro lado, a taxa de poupança recuou para 14,5%, comparada aos 15% de 2023.
No último trimestre de 2024, a economia brasileira manteve trajetória positiva, com crescimento de 0,2% em relação ao terceiro trimestre e avanço de 3,6% na comparação com o mesmo período de 2023, marcando o 16º resultado positivo consecutivo nesta base comparativa. Contudo, observou-se uma queda no consumo das famílias neste período. "No quarto trimestre de 2024 o que chama atenção é que o PIB ficou praticamente estável, com crescimento nos investimentos, mas com queda no consumo das famílias. Isso porque tivemos um pouco de aceleração da inflação, principalmente a de alimentos. Continuamos tendo melhoria no mercado de trabalho, mas com uma taxa já não tão alta. E os juros começaram a subir em setembro do ano passado, o que já impactou no quarto trimestre", diz Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
O resultado ficou aquém das expectativas do Banco Central. O IBC-Br (Índice de Atividade Econômica), um indicador publicado pelo BC e que costuma prever o desempenho do PIB, indicou um crescimento de 3,8% da economia brasileira em 2024.
A economia brasileira em 2024 foi impulsionada principalmente pelos setores de serviços e indústria, que registraram crescimento de 3,7% e 3,3%, respectivamente, em comparação com 2023. Em contrapartida, a agropecuária apresentou retração de 3,2% no período.
No setor de serviços, todas as atividades mostraram desempenho positivo. Informação e comunicação liderou com expansão de 6,2%, seguida por outras atividades de serviços (5,3%). O comércio cresceu 3,8%, enquanto as atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados avançaram 3,7%.
Na indústria, a construção civil destacou-se com alta de 4,3%, beneficiada pelo aumento da ocupação no setor, maior produção de insumos típicos e expansão do crédito. Também apresentaram crescimento significativo os segmentos de eletricidade, gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos, com alta de 3,6%.
A agropecuária sofreu com eventos climáticos adversos que afetaram a produtividade de importantes culturas, especialmente a soja (queda de 4,6%) e o milho (redução de 12,5%).
Apesar do bom desempenho econômico em 2024, os resultados do quarto trimestre indicam uma possível desaceleração para 2025. Segundo Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez, embora o PIB de 2024 demonstre uma economia aquecida, os dados do último trimestre apontam para uma perda de ímpeto que deve refletir no próximo ano.
"O PIB do último trimestre de 2024 veio mais fraco que o esperado. Além disso, o trimestre anterior foi revisado para baixo, saindo de 0,9% para 0,7%, confirmando a perda de ímpeto da economia no final do ano passado. O ano de 2025 deve marcar uma desaceleração do ritmo de crescimento, na esteira do que foi confirmado pela divulgação de hoje", diz.
A desaceleração econômica observada no final do ano reflete as medidas restritivas adotadas pelo Banco Central, que elevou as taxas de juros com o objetivo de controlar a inflação. Soma-se a isso a diminuição da demanda internacional, fator que possivelmente restringiu a expansão das exportações brasileiras. "Para 2025, o ritmo da economia deve continuar desacelerando, dado que o cenário base é de um aumento da taxa de juros pelo Banco Central. Além disso, o ambiente externo segue desafiador, com maior incerteza global, o que pode afetar tanto a demanda por exportações brasileiras quanto a confiança dos investidores", diz Fernando Bento, CEO e sócio da FMB Investimentos.
O desempenho econômico superou as projeções iniciais para 2024. De acordo com Gesner Oliveira, economista, sócio da GO Associados e professor da FGV, as perspectivas no começo do ano eram consideravelmente mais pessimistas que os resultados efetivamente alcançados. "Havia um verdadeiro catastrofismo em relação ao ano de 2024 e o crescimento de 3,4% é bastante positivo", diz. Segundo ele, 2025 deve ser diferente de 2024, com crescimento menor. "Com uma taxa de juros maior e um cenário externo mais desafiador sob as ações da gestão de Donald Trump , naturalmente as perspectivas de crescimento são um pouco menores", diz.
O Produto Interno Bruto (PIB) representa o valor total dos bens e serviços finais produzidos durante um período específico. No Brasil, o IBGE publica trimestralmente o Sistema de Contas Nacionais Trimestrais, calculado a partir do consumo das famílias e do governo, investimentos e exportações líquidas.
Implementada em 1988, a metodologia de cálculo do PIB passou por importantes atualizações. Em 1998, ocorreu a primeira reformulação, quando os resultados trimestrais foram integrados ao Sistema de Contas Nacionais anual. Posteriormente, em 2015, uma nova revisão metodológica estabeleceu 2010 como o ano-base para os cálculos atuais.