Racha no PSOL sobre governo Lula opõe Boulos e Erika Hilton a Sâmia e Erundina

Folha de São Paulo
Racha no PSOL sobre governo Lula opõe Boulos e Erika Hilton a Sâmia e Erundina Guilherme Boulos e Luiza Erundina, em evento em São Paulo, em 2024 - Marlene Bergamo - 16.mar.24/Folhapress

A possibilidade de o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) assumir a Secretaria-Geral da Presidência acendeu um alerta para parte de seus companheiros de partido e, caso se concretize, pode intensificar os conflitos internos da sigla.

O PSOL abriga divergências sobre a adesão a funções no Executivo. Parte da legenda defende mais independência, enquanto outros veem a participação como natural.

"É claramente contraditório. A decisão do PSOL foi clara de não compor governo, e isso está bem redigido na resolução aprovada em dezembro de 2022", afirma a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS).

Apesar da orientação, parte dos psolistas não se opõe à nomeação, caso da deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ), que diz ser natural que o partido conquiste espaço, já que se tornou uma das siglas mais relevantes na esquerda. "Essa discussão acontece desde o início do governo. Estou mais preocupada com o que vai ser do Brasil", afirma.

A sigla vive um clima de racha marcado pela demissão de um assessor do partido na Câmara dos Deputados e por embates públicos entre suas lideranças, resultado de disputas envolvendo o apoio ao governo.

Parte dos deputados se incomoda, por exemplo, com a falta de posicionamentos públicos de colegas que votam contra medidas de austeridade, mas não entram em confronto com o governo. Congressistas ouvidos pela Folha afirmam haver preocupação em desagradar o Planalto.

O embate ganhou destaque no mês passado após o economista David Deccache dizer que foi demitido da liderança do PSOL na Câmara por motivos políticos. Crítico da agenda econômica do governo, ele manifestava descontentamento nas redes sociais.

Deccache é de uma ala minoritária do partido que engloba correntes mais radicais. A principal delas é o MES (Movimento Esquerda Socialista), que participou da fundação do PSOL e prega a independência em relação ao Planalto.

Deputados desse bloco ou que se alinharam a ele votaram contra a demissão do economista no início de fevereiro: Fernanda Melchionna (RS), Glauber Braga (RJ), Sâmia Bomfim (SP), Luiza Erundina (SP) e Chico Alencar (RJ).

Desses, Fernanda Melchionna, Glauber Braga e Sâmia são considerados da ala minoritária, enquanto os decanos Erundina e Chico Alencar são considerados pelos colegas como independentes.

Entre os que votaram a favor da demissão estavam Guilherme Boulos (SP), Célia Xakriabá (MG), Erika Hilton (SP), Ivan Valente (SP), Pastor Henrique Vieira (RJ), Luciene Cavalcante (SP), Talíria Petrone (RJ) e Tarcísio Motta (RJ). Todos considerados integrantes do bloco majoritário.

Esse grupo negou, em nota, que o desligamento do economista tenha ocorrido por divergências políticas, acusando-o de fazer ataques públicos a congressistas do partido e à presidente da legenda, Paula Coradi — o que ele nega.

Indagada, a direção do partido afirmou que a liderança da bancada na Câmara tem autonomia para definir seus assessores e que não cabe a ela interferir em decisões de contratações ou desligamentos de pessoal, que ela define como atos meramente burocráticos.

Troca de acusações

A crise interna remonta ao congresso nacional do PSOL em 2023, quando o grupo formado pelas correntes Revolução Solidária (liderada por Boulos), Primavera Socialista (do ex-presidente Juliano Medeiros) e aliados derrotaram o MES (da deputada estadual gaúcha Luciana Genro).

A atual presidente Paula Coradi, vinculada ao mesmo grupo de Juliano Medeiros, foi eleita na ocasião com um projeto de aproximação do governo Lula.

A minoria acusa o outro lado de autoritarismo. Diz que correligionários se opõem a ceder espaços de poder proporcionais ao tamanho da ala e reclama da falta de diálogo e transparência.

"A militância não decide nada. Não há democracia interna na organização deles. E eles querem fazer a mesma coisa com o PSOL, [impor] uma organização de cima para baixo, em que a liderança manda e a militância obedece, como se gado fosse", afirma Deccache.

"Esse episódio [de demissão] não é isolado. Reflete a política do setor majoritário do partido, dirigido por Guilherme Boulos, que combina adesão ao governismo com autoritarismo", diz editorial da Revista Movimento, vinculada ao grupo do MES.

A tese dos deputados da maioria é que a polêmica foi fabricada, trazendo a público um debate que deveria ser interno.

"É um erro grave que parte da esquerda não compreenda os riscos do avanço da extrema-direita aqui e no mundo e tenha seu horizonte limitado a disputas internas", diz o grupo de Boulos, em nota.

A assessoria de Boulos disse que o deputado não comentaria o assunto e enviou a nota assinada pela maioria.

Deputados da ala minoritária que conversaram com a reportagem negaram a possibilidade de deixar o partido neste momento. A exceção é Glauber Rocha, que afirmou ter aberto uma discussão com a própria equipe para decidir se faz sentido continuar.

A divisão interna no PSOL é tida por alguns como um fator capaz de abalar a unidade do partido, que também nasceu de uma cisão por divergências com o governo Lula.

Na primeira gestão petista (2003-2006), havia um embate entre setores do PT mais alinhados ao Planalto e alas mais críticas, principalmente à condução da política econômica. No último grupo, estavam os então parlamentares Babá, Heloísa Helena, João Fontes e Luciana Genro.

Considerados radicais, os congressistas foram expulsos do partido por votar contra a proposta do governo de reforma da Previdência, em 2003. Em resposta, esses dissidentes, junto a outros militantes de esquerda insatisfeitos com os rumos do PT, fundaram o PSOL em 2004.




Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.