Decisão de Trump pode gerar prejuízo bilionário para madeireiras no Brasil

Enquanto Donald Trump afirma que "não necessita" de madeira de nenhum outro lugar, a Casa Branca deu início, no dia 1º de março, a um processo para investigar a possibilidade de um comércio "desleal" de madeira para os Estados Unidos. O principal foco dessa análise é o fornecimento canadense, mas o governo dos EUA reconhece que está avaliando o fluxo de madeira de outros países, incluindo o Brasil.
Esta investigação, que visa fortalecer a produção interna, pode resultar em prejuízos bilionários para a indústria de madeira brasileira, predominantemente localizada na região Sul.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Câmara de Comércio Brasil-EUA, também conhecida como Amcham, o Brasil ocupa a quinta posição entre os maiores fornecedores de madeira aos Estados Unidos. Em 2024, as exportações brasileiras de madeira e produtos derivados totalizaram US$ 3,7 bilhões, com 43,3% (equivalente a US$ 1,6 bilhão) destinados ao mercado americano.
Adicionalmente, o Brasil também exportou US$ 668,1 milhões em móveis, com os Estados Unidos sendo o principal destino, respondendo por 32,9% dessas exportações. Isso representa cerca de US$ 220,1 milhões em vendas. O Uruguai é o segundo maior destino, com apenas 7,4% do total exportado.
A entidade privada do setor ressalta a importância de que o governo "acompanhe de perto a investigação" e os possíveis prejuízos em caso de aplicação de sobretaxas.
Na ação de Trump, o segmento de produtos de madeira é caracterizado como "essencial para a segurança nacional e resiliência industrial dos EUA", sendo vital para várias indústrias, incluindo construção civil e militar. De acordo com a ordem executiva do presidente, os Estados Unidos estão enfrentando desafios como a prática de dumping em importações e a presença de "subsídios injustos" em outros países. A Amcham ressalta que México e China, que ocupam respectivamente o segundo e terceiro lugares no ranking de destinos das vendas brasileiras, representam apenas 8,7% e 4,9% das exportações.
Concentração em estados bolsonaristas
O estudo também revela que a maior parte da produção e exportação desses produtos ocorre no Sul do Brasil, uma região onde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), associado a Trump, foi o candidato mais votado nas últimas duas eleições.
Segundo a Amcham, os estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul correspondem juntos a 86,5% do total exportado de madeira. No setor de móveis, os três estados sulistas e São Paulo somaram 97,6% do total enviado para os EUA em 2024.
Em todos os cenários, Santa Catarina desempenha um papel crucial. O estado é responsável por 41% das exportações de madeira e mais de 50% dos móveis. Em menos de dois meses, o deputado Eduardo Bolsonaro realizou lobby nos EUA em três ocasiões, com o objetivo de mobilizar a base de Trump contra o Supremo Tribunal Federal.
No total, em 2024, os EUA importaram US$ 49,3 bilhões no setor de madeira e produtos de madeira, com 53,6% dessa quantia se referindo a móveis e 46,4% a madeira e carvão.
"O Brasil aparece com destaque nas compras dos EUA de madeira, carvão e suas obras, sendo o 3o maior fornecedor ao país desse grupo de produtos em 2024, com US$ 1,5 bilhão (ou 6,8% do total importado pelos EUA)", afirmou a entidade. Apenas o Canadá e China superam o fornecimento brasileiro.
No que diz respeito a móveis e componentes, o Brasil ocupa uma posição mais modesta como fornecedor para os EUA, figurando apenas como a 15ª maior origem das importações do país, totalizando US$ 214 milhões e detendo uma participação de 0,8%. Os principais fornecedores dos EUA são Vietnã, China, Canadá e México.
A medida anunciada para madeira e produtos derivados "traz impacto direto ao Brasil, o 5º maior exportador desses bens aos EUA".
"Entretanto, a medida seguirá um processo de investigação onde a participação brasileira (setor público e privado) será fundamental para mitigar os efeitos e eventuais medidas a serem aplicadas contra exportadores brasileiros", recomendam.
A entidade também fornece orientações para as empresas brasileiras, considerando o risco de novas tarifas. Isso abrange a necessidade de manter um diálogo com as autoridades do Brasil e dos Estados Unidos, compilar e compartilhar o máximo de informações possíveis, como os preços justos praticados pelos produtores brasileiros e a falta de apoio estatal (subsídios), além de elaborar uma mensagem clara sobre a participação do Brasil na cadeia produtiva dos EUA. Por último, a Amcham recomenda que o setor apresente alternativas, de maneira proativa, aos dois governos, a fim de evitar novas barreiras aos produtos nacionais.