Inflação dispara e pressiona BC a subir juros para 14,25%

O GLOBO
Inflação dispara e pressiona BC a subir juros para 14,25% Reprodução

Depois de uma curta trégua em janeiro, o IPCA, índice oficial de inflação, subiu 1,31% no mês passado, impulsionado pelo aumento da energia elétrica. Trata-se da maior alta para fevereiro desde 2003, quando o indicador avançara 1,57%. O resultado veio em linha com as projeções e confirma um cenário de índice de preços acima do teto da meta, de 4,5% ao ano. Na avaliação dos economistas, o Banco Central (BC) segue pressionado e deve cumprir a indicação de elevar os juros para 14,25% ao ano na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, marcada para a próxima semana.

O índice acumulado em 12 meses ficou em 5,06%, o maior nível desde setembro de 2023, quando havia subido 5,19%.

Em janeiro, a energia elétrica teve queda de 14,21% e contribuiu para que o IPCA avançasse apenas 0,16%, em razão do bônus da usina de Itaipu, que resultou em um desconto na tarifa de todos os consumidores. Com o fim desse efeito, em fevereiro, a energia subiu 16,8%.

De acordo com Fernando Gonçalves, gerente da pesquisa do IBGE, se o índice não considerasse o número da energia elétrica, o resultado da inflação de fevereiro ficaria em 0,78%, o que mostra o peso do item neste mês.

O segundo item individual que mais teve influência no IPCA do mês foi o da gasolina, que viu seu preço subir 2,78%, como reflexo do aumento do ICMS.


Mensalidade escolar

Entre os grupos analisados pela pesquisa, o de Educação foi o que mais avançou, em razão do movimento sazonal de aumento do preço das mensalidades escolares.

— Olhando sazonalmente, a inflação de início de ano é sempre muito elevada. A questão da educação também contribuiu bastante em fevereiro, embora esse ajuste de mensalidades escolares tenha sido o mais baixo nos últimos três anos — diz Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos.

Nos cálculos de Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, 73% da inflação do mês passado foi resultado da combinação do fim do efeito do bônus de Itaipu, da alta da gasolina com aumento do ICMS pelos estados e do aumento das mensalidades, com destaque para cursos regulares, que subiram 5,69%.

“A inflação no início deste ano foi e voltou, mas o recado que ela nos deu não foi bom. Na média dos resultados de janeiro e fevereiro, a inflação foi de 0,74%, bem maior do que os 0,63% da média dos dois primeiros meses de 2024 e dos 0,39% da média do ano passado como um todo”, escreveu o economista em relatório.

Para Arnaldo Lima, economista e RI da Polo Capital, os resultados confirmam um cenário de conversão do índice abaixo do teto da meta em agosto de 2026, o que reforça que Gabriel Galípolo, presidente do BC , deve ter que redigir carta aberta para justificar o não cumprimento da meta. Seria o primeiro comunicado do tipo desde que o país passou a adotar este ano a meta contínua de 4,5%.

Alimentos desaceleram

Na ponta positiva, os alimentos, que impulsionaram a inflação ao longo do ano passado, começaram a desacelerar. O grupo Alimentação e Bebidas subiu 0,7% em fevereiro, após alta de 0,96% em janeiro.

Andréa Angelo, da Warren, que está na ponta mais otimista das projeções, com previsão de alta de 0,5% do IPCA em março, afirma que a alimentação deve ajudar a inflação a perder fôlego adiante.

— A perspectiva é que o pico, que chegou a mais de 8% em 12 meses, vai começar devagarzinho a desacelerar e fechar em cerca de 6,5% ou 7% no ano que vem. Vai incomodar menos. E, principalmente, esses itens que pesam no orçamento familiar, como arroz, leite e carnes, têm uma perspectiva de variações menos elevadas mesmo.

A preocupação com o tema foi de tal ordem que o governo anunciou neste mês um pacote anti-inflação, com medidas que incluem zerar a alíquota de importação de produtos como azeite, café, carne e óleo de cozinha, entre outros. Além disso, flexibilizava a fiscalização sobre produtos de origem animal e fortalecia os estoques reguladores.

Embora a alta dos alimentos tenha perdido fôlego, alguns dos itens recorrentes à mesa do brasileiro tiveram salto nos preços, como ovo (15,39%) e café (10,77%). (Veja mais abaixo) Além disso, em 12 meses, os alimentos ainda acumulam variação de 7%.

Para março, Matheus Dias, economista do FGV Ibre, projeta que o índice pode ficar em torno de 1%. Ele pondera que, apesar da perspectiva de safra maior este ano, outros itens são mais suscetíveis à flutuação de preços, como hortaliças, frutas e verduras. O que ele aponta como fator de atenção é a inflação de serviços, que tem dado sinais de aceleração. Em relação aos alimentos, ele estima que o grupo deve terminar o ano com alta até maior do que a do ano passado, mas sem choque de preços como em 2024:


— Não tem as mesmas questões que fizeram com que os alimentos subissem muito, então ter um clima mais estável favorece, não ter tantos choques do dólar facilita.


Política fiscal e Trump

Na avaliação de economistas, além das incertezas no cenário doméstico, especialmente na política fiscal, é preciso levar em conta o cenário internacional, com idas e vindas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação à guerra comercial. Diante do quadro, analistas mantiveram suas projeções para a taxa básica de juros este ano.

— A visão é que a inflação está muito forte, e as medidas do governo podem continuar a elevando por causa de auxílios de renda ou impulsos ficais. Mas a nossa perspectiva de Selic não muda, com a reunião de março indo para 14,25% e depois 14,75%. E aí deve começar a ter uma queda de Selic no final desse ano — prevê Andréa, da Warren.

Para Gilberto Braga, economista e professor de pós-graduação em Finanças do Ibmec, a Selic deve fechar o ano em ao menos 15%.

— Todos os orçamentos públicos são elaborados com a meta de 3% (centro da meta), e a inflação está destoando disso. Isso significa que a pressão em cima da equipe econômica continua — afirma Braga, citando dúvidas quanto à política fiscal: — A gente já percebe que a necessidade de recuperação de imagem tem levado a medidas expansionistas, como a liberação do FGTS, além do consignado para o setor privado. Essas questões pressionam a política monetária.

Dias, do FGV Ibre, avalia que a inflação deve fechar o ano entre 5,5% e 6% e projeta a Selic no fim do ano em 15%:

— Existe a incerteza na política econômica que tem ocorrido no mercado internacional, que pode contribuir bastante para as decisões de política monetária, e consequentemente da taxa de juros.




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