Entenda quando o jogo de azar vira uma armadilha mortal

Nos últimos anos, o crescimento dos jogos de azar online revelou uma realidade alarmante: muitas pessoas dispostas a arriscar tudo na esperança de conquistar um ganho que, além de resolver suas dívidas, possa proporcionar um estilo de vida luxuoso.
O poder da influência
Diversos influenciadores digitais têm promovido esses jogos, vendendo a ilusão de enriquecimento rápido. Um exemplo disso é Mateus da Silva, conhecido como Gbzin nas redes sociais, que acumulava mais de 250 mil seguidores e ostentava um estilo de vida luxuoso. Contudo, sua fachada desmoronou em 18 de fevereiro, quando a Operação Jackpot da Polícia Civil do Ceará apreendeu bens no valor de R$ 12,5 milhões, provenientes de lucros ilegais com o jogo.
Outro caso envolveu o trio de influenciadoras de Luziânia (GO), as “Patricinhas do Tigrinho”, que promoviam jogos de azar enquanto recebiam benefícios sociais, como o Bolsa Família. Em dezembro de 2024, a Polícia Civil de Goiás cumpriu mandados de busca e apreensão contra Ana Carolina de Souza, Aline Tainara Barbosa dos Reis e Tawane Alexandra Silva dos Anjos, acusadas de estelionato, exploração de jogos de azar e lavagem de dinheiro.
O que ocorre na mente de um apostador compulsivo?
A psicóloga clínica e jurídica Marlêide Borges explica que o vício em apostas, conhecido como ludopatia, gera uma dependência semelhante ao vício em substâncias como a cocaína. O jogo afeta diretamente o sistema de recompensa cerebral, criando a ilusão de controle e a promessa de um lucro fácil. Isso pode levar os indivíduos a um ciclo vicioso de perdas e ganhos momentâneos, alimentado pela crença de que o próximo jogo trará grande riqueza.
Além disso, a facilidade de acesso aos jogos online, disponíveis diretamente nos celulares, é um fator alarmante. "Esses jogos podem ser acessados a qualquer momento, sem que amigos e familiares percebam", aponta a psicóloga, ressaltando que o vício se torna silencioso e difícil de ser identificado por quem está ao redor do indivíduo.
Suicídios relacionados ao vício
De acordo com a Polícia Civil, até junho de 2024, pelo menos quatro suicídios em São Paulo foram atribuídos ao vício em apostas online. A psicóloga destaca que a perda repentina de grandes quantias pode causar uma sobrecarga emocional extrema. "Isso gera um sentimento de desesperança e estresse intenso, que leva a pessoa a acreditar que a única solução para o problema é a fuga por meio do suicídio", alerta Marlêide.
O tratamento para a ludopatia exige uma intervenção profissional e o apoio familiar. A psicóloga enfatiza que mudanças de comportamento, como o isolamento social e a irritabilidade, são sinais de alerta. O acolhimento sem julgamentos é essencial para que a pessoa reconheça o problema e busque ajuda.