A espera por consulta e cirurgia no SUS atingiu recorde no pós-pandemia

O GLOBO
A espera por consulta e cirurgia no SUS atingiu recorde no pós-pandemia reprodução

Caio de Melo Ramos, de três anos, foi diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA) por um médico do Sistema Único de Saúde (SUS). O profissional recomendou acompanhamento com especialistas, mas a realidade da espera por atendimento tem sido desafiadora. Sua mãe, Priscila Melo, moradora de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, passou cinco anos tentando marcar consultas com neurologista, psicólogo e fonoaudiólogo. Até agora, conseguiu apenas a consulta com o neurologista.

— Não me deram previsão. Um agente de saúde me disse que preciso esperar, que não há o que fazer. Estamos à mercê. Enquanto isso, meus filhos precisam de atendimento e estão regredindo — lamenta Priscila, que também tem outro filho diagnosticado com autismo.

A história de Priscila não é única. Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) mostram que o tempo de espera por consultas especializadas no SUS atingiu recordes históricos. Em 2024, a média de espera foi de 57 dias, superando os 50 dias registrados em 2020, no auge da pandemia de Covid-19.

Uma ferramenta criada pelo jornal O Globo, com base em dados do Sistema Nacional de Regulação (Sisreg), revela que, em janeiro deste ano, 5,7 milhões de pessoas estavam na fila para consultas no SUS — número equivalente a 80% da população do Rio de Janeiro. A demora varia conforme a especialidade e a região: no Mato Grosso, por exemplo, a espera para um geneticista pode chegar a 721 dias (quase dois anos). Já para consultas oftalmológicas, que foram as mais requisitadas em 2023, a média de espera foi de 83 dias.

O Ministério da Saúde afirma que a redução dessas filas é uma prioridade para o novo ministro, Alexandre Padilha, que assumiu o cargo em março. Segundo a pasta, em 2023 foram realizados 14 milhões de procedimentos eletivos, um aumento de 37% em relação a 2022. No entanto, especialistas apontam falhas no sistema, com estados e municípios nem sempre registrando os dados corretamente no Sisreg.

Cinco dias após o Ministério da Saúde ser questionado sobre o problema, foi publicada uma portaria determinando a substituição do Sisreg pelo novo sistema Regulação E-SUS. Esse sistema exigirá que gestores locais enviem dados periódicos sobre as filas de atendimento, mas ainda não há prazo para sua implementação.

Enquanto isso, pacientes como Vera Lúcia Gentil, de 61 anos, seguem na incerteza. Diagnosticada com um tumor cerebral em abril de 2023, ela esperou sete meses para consultas e exames antes de ser encaminhada para cirurgia, que ainda não foi realizada. No caso de cirurgias oncológicas, a espera pode chegar a 188 dias, descumprindo a lei que estabelece um prazo máximo de 60 dias para o início do tratamento.

Para Carla Pintas Marques, ex-diretora do Ministério da Saúde e professora da Universidade de Brasília (UnB), o sistema precisa de uma reformulação para garantir um fluxo contínuo de atendimento aos pacientes, sem múltiplas filas.

— A lei determina que o tratamento contra o câncer comece em até 60 dias, mas antes disso há uma série de etapas burocráticas, como consultas, exames e regulações, que aumentam a espera — explica Carla.

Jurandi Frutuoso, secretário-executivo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), atribui parte do problema ao acúmulo de demandas represadas durante a pandemia. Com a suspensão de cirurgias eletivas e a redução na busca por atendimento, os diagnósticos aumentaram nos últimos anos, ampliando as filas.

Enquanto o SUS busca soluções para reduzir o tempo de espera, milhões de brasileiros continuam enfrentando longas filas, muitas vezes comprometendo sua saúde e qualidade de vida.




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