PSDB busca fusão com Podemos diante de risco de extinção política

Após conversas com grandes partidos sobre uma fusão, o PSDB deve escolher um caminho de alianças com legendas menores. Agora, no momento final do prazo determinado pelos líderes para definir o futuro do partido, a expectativa na alta cúpula tucana é de anunciar em duas semanas uma parceria com o Podemos.
O plano do grupo envolve um processo em etapas, onde a fusão com o Podemos seria seguida pela criação de uma federação com o Solidariedade. O objetivo do PSDB é reencontrar seu espaço e apresentar uma candidatura que represente uma alternativa aos domínios do presidente Lula (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Esse movimento visa preservar a identidade e a história do partido, evitando a incorporação pela siglas maiores. Entretanto, essa decisão pode provocar a saída dos dois governadores que ainda permanecem no PSDB, que exigem uma estrutura mais robusta para as futuras eleições.
Os apoiadores da aliança buscam persuadir Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul) a permanecerem no partido, argumentando que a nova legenda disporia de maior fundo eleitoral e partidário em comparação a outras, como os Republicanos, MDB, PSD e PP.
"Estamos prestes a construir um novo caminho para o centro democrático brasileiro e para os milhões de brasileiros que não se sentem confortáveis nem com o que representa o lulopetismo nem com o que representa o bolsonarismo", afirmou o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), presidente do Instituto Teotônio Vilela.
Os governadores do PSDB definiram abril como o prazo final para o partido decidir com quem se aliará na tentativa de sobreviver após definhar. O processo de encolhimento seu deu com a perda do protagonismo na oposição ao PT para Bolsonaro e com os principais líderes da sigla denunciados na Operação Lava Jato.
A legenda chegou a eleger 99 deputados federais e sete governadores em 1998, além de contar com 16 senadores. Na eleição nacional passada, quando nem sequer lançou candidatura própria para a Presidência, foram apenas 13 deputados federais, três governadores e nenhum senador. Além disso, 2024 foi a pior eleição municipal na história do PSDB.
A última opção considerada foi o Republicanos, defendida por Riedel, que se encontrou com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para discutir uma possível aliança. No início de abril, a fusão entre os dois partidos parecia o cenário mais provável, mas as negociações não avançaram devido à preferência do Republicanos por incorporar o PSDB, mantendo seu nome e seu conteúdo programático.
Em relação ao Podemos, o partido está aberto a dialogar com os tucanos sobre uma "repaginada", contando com a participação de economistas tradicionais ligados ao PSDB para o novo programa partidário. As conversas com o Republicanos não foram totalmente descartadas, mas, neste momento, a ideia é adiá essas discussões para um segundo momento, após a fusão com o Podemos. Nesse contexto, o novo partido poderia formar uma federação com o Solidariedade e o partido do Tarcísio. "É uma possibilidade. Temos que estar abertos a isso, mas é um passo à frente", afirmou Aécio.
O mineiro diz que a negociação é conduzida por Perillo e pela presidente do Podemos, a deputada Renata Abreu (SP), e acredita que a primeira etapa será concluída em abril. "Em duas semanas, estaremos dando ao Brasil esta nova alternativa ousada de centro, que vai apresentar um novo projeto para o país", afirmou.
O novo partido será temporariamente nomeado #PSDB+Podemos e terá como presidente Renata Abreu. A definição de um nome definitivo ainda está pendente. Está quase certo que a nova sigla integrará uma federação com o Solidariedade no futuro. Por outro lado, as conversas sobre uma federação com os Republicanos ainda estão em estágio inicial e, segundo a impressão de dois líderes da nova agremiação, é considerada improvável.
Dentro do Republicanos, a aliança é encarada com ceticismo, especialmente após a rejeição de uma proposta de federação com o PP e o União Brasil, que visavam preservar sua autonomia, principalmente com a expectativa de crescimento após a chegada de Hugo Motta (Republicanos-PB) à presidência da Câmara. A escolha por duas legendas de menor porte, conforme confirmado por três dirigentes do PSDB à Folha, pode ocasionar a saída de alguns filiados que buscam uma estrutura maior para as próximas eleições.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, indicou a aliados que deve se filiar ao PSD, partido para o qual a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, também migrou, sendo agora uma ex-integrante do PSDB.
"Em respeito à história que construímos juntos, qualquer decisão sobre meu futuro partidário será tomada apenas após a conclusão desse processo interno, que terá um desfecho até o fim do mês de abril", escreveu ele nas redes sociais na quarta-feira (16).
A liderança do PSDB indica que Leite poderia concorrer à Presidência pelo #PSDB+Podemos, enquanto o PSD permanece receptivo à candidatura do governador gaúcho, oferecendo controle sobre o diretório estadual da legenda.
A decisão do diretório de Mato Grosso do Sul será definida pelo governador Riedel, que está considerando um convite para se juntar aos Republicanos e poderia levar consigo cerca de um quarto da bancada do PSDB na Câmara, além de mais da metade das prefeituras do partido em todo o Brasil.
"São 79 municípios em Mato Grosso do Sul, e é um estado maior do que São Paulo em território. Se você não tiver propaganda na televisão, não atinge a população toda, fica muito difícil fazer campanha", disse o deputado Dagoberto Nogueira (PSDB-MS).
O ex-governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, que é o tesoureiro nacional do PSDB, afirmou que o partido ainda está na expectativa das propostas oficiais dos Republicanos e do Podemos para proceder com a avaliação. "Há possibilidade de os três caminharem juntos. Queremos construir um projeto nacional, e um projeto nacional você não constrói sozinho", afirmou.
Para evitar o esvaziamento, as direções do Podemos e do PSDB elaboraram um estudo que mostra que, juntos, eles terão mais fundo partidário do que MDB e PSD, e mais dinheiro público na eleição do que o Republicanos. Se a federação com o Solidariedade também ocorrer, poderiam ser 33 deputados federais, sete senadores e três governadores. A expectativa é não apenas conter a debandada, mas filiar outros parlamentares em 2026.