Ritual do conclave definirá novo papa; saiba como funciona

Faleceu nesta segunda-feira (21/04), aos 88 anos, o papa Francisco, que foi o primeiro papa sul-americano e jesuíta na história da Igreja Católica.
O papa morreu em sua residência no Vaticano, na Casa Santa Marta. A notícia de sua morte foi divulgada pelo cardeal Farrell.
"Caros irmãos e irmãs, é com profundo pesar que me cabe anunciar a morte de Sua Santidade Papa Francisco."
"Às 7:35 desta manhã (hora local. 2:35 de Brasília), o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda sua vida foi dedicada a servir ao Pai e Sua Igreja."
"Ele nos ensinou a viver os valores das Escrituras com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados."
O papa Francisco foi internado de 14 de fevereiro a 23 de março no hospital Gemelli, em Roma, devido a dificuldades respiratórias. Sucessor de Bento 16, que renunciou após quase 600 anos, Francisco lidera a Igreja Católica há 12 anos.
Quando eleito, Francisco surpreendeu ao desviar das expectativas conservadoras de Bento 16. Ele foi visto como um papa moderno, próximo de causas sociais e disposto a abordar temas polêmicos. Com seu papado encerrado, inicia-se um processo de luto e rituais fúnebres antes da escolha de um novo papa. A eleição é feita por cardeais em um processo secreto, tradição desde a era medieval.
O período de luto
Quando um papa falece, é declarado um luto de nove dias, e o enterro acontece entre o 4º e o 6º dia após o falecimento.
O funeral é coordenado pelo camerlengo, o título do tesoureiro da Santa Sé, que também é responsável pela organização do conclave que elege o próximo papa.
Atualmente, essa responsabilidade recai sobre o cardeal irlandês Kevin Farrell.
Em uma cerimônia simbólica, o camerlengo rompe o "Anel do Pescador", que é o anel de sinete em ouro usado pelos papas. No interior do anel, está gravado São Pedro lançando sua rede de um barco, enquanto o nome do papa atual está inscrito na borda.
Esse ato representa a interrupção do poder papal. Este é o instante da chamada sede vacante, ou "trono vazio".
Assim, o poder dentro da igreja passa para o Sagrado Colégio dos Cardeais.
Funeral e sepultamento
Espera-se que o funeral do papa Francisco ocorra na Praça de São Pedro, reunindo uma imensa multidão de fiéis e líderes de Estado.
A cerimônia será liderada pelo decano do Colégio dos Cardeais, o italiano Giovanni Battista Re, de 91 anos.
Tradicionalmente, os papas são sepultados nas Grutas do Vaticano, que são criptas localizadas abaixo da Basílica de São Pedro e abrigam os restos de quase 100 papas, incluindo Bento 16, que faleceu em 2022. Contudo, Francisco expressou o desejo de ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, uma de suas igrejas prediletas.
Se esse desejo se realizar, ele será o primeiro papa em mais de cem anos a ser sepultado fora do Vaticano.
Conforme a tradição, os corpos dos papas costumam ser colocados em três caixões, feitos de cipreste, chumbo e carvalho. No entanto, Francisco solicitou um funeral mais simples e optou por ser enterrado apenas em um caixão de madeira e zinco.
Reunião dos cardeais no Vaticano
Os cardeais devem se congregar no Vaticano entre o 15º e o 20º dia após a morte do papa, onde ficarão em acomodações especiais enquanto ocorrem as eleições. Cerca de 120 cardeais participam do processo eleitoral – atualmente, existem 252 cardeais em todo o mundo, mas aqueles com mais de 80 anos não têm direito a voto.
A votação exige uma maioria de dois terços e continua até que essa maioria seja alcançada.
Caso os cardeais não consigam chegar a um consenso sobre quem deve ser eleito, a votação é suspensa por um dia de oração e discussão antes de retomar a votação. Durante a reunião, todos os envolvidos, incluindo os aposentados, irão discutir em sigilo as qualificações dos possíveis candidatos.
De acordo com o Vaticano, os cardeais são orientados pelo Espírito Santo. No entanto, embora campanhas públicas sejam proibidas, o processo de eleição papal continua a ser extremamente político.
Os responsáveis pela coalizão têm um prazo de duas semanas para formar alianças, e acredita-se que os cardeais mais experientes, apesar de terem menores chances de serem eleitos papas, possuem uma influência maior.
O Conclave
A eleição de um papa ocorre em um ambiente de segredo ímpar na era moderna.
Os cardeais são isolados no Vaticano até que cheguem a um consenso – o termo conclave, que se traduz como "trancados com uma chave", reflete essa situação.
Esse processo eleitoral pode demorar dias. Em épocas passadas, ele se estendia por semanas ou até meses, e houve casos em que alguns cardeais faleceram durante os conclaves.
O objetivo desse procedimento é garantir que nenhuma informação sobre a votação vaze, seja durante ou depois do conclave. Existe a ameaça de excomunhão para aqueles que se sentirem tentados a romper esse silêncio.
João Paulo II alterou as regras do conclave para permitir que um papa fosse escolhido por maioria simples. Entretanto, Bento XVI reverteu essa mudança para que fosse novamente exigida uma maioria de dois terços, o que indica que o escolhido provavelmente será um candidato com amplo apoio.
Antes de começar a votação na Capela Sistina, especialistas em segurança inspecionam toda a área para assegurar que não haja microfones ou câmeras ocultas.
Assim que o conclave se inicia, os cardeais se alimentam, votam e dormem em áreas fechadas até que um novo papa seja eleito.
Eles não têm permissão para se comunicar com o mundo exterior, exceto em situações de emergência médica. Todos os aparelhos de rádio e televisão são removidos, jornais e revistas são proibidos e telefones celulares não são permitidos.
Dois médicos têm acesso ao conclave, assim como padres que podem ouvir confissões em várias línguas e a equipe de limpeza.
Essa equipe deve fazer um juramento de segredo perpétuo e se comprometer a não usar equipamentos de gravação de som ou vídeo.
Rituais de votação
A votação ocorre na Capela Sistina. No dia em que o conclave se inicia, os cardeais celebram uma missa pela manhã antes de se dirigirem em procissão até a capela.
Uma vez que os cardeais estão dentro da área do conclave, devem fazer um juramento de segredo. A seguir, o comando latino extra omnes ("todos fora") ordena que todos os não envolvidos na eleição deixem o local antes que as portas sejam fechadas.
Os cardeais têm a opção de realizar uma única votação na tarde do primeiro dia. A partir do segundo dia, duas votações são realizadas pela manhã e duas à tarde.
A cédula tem formato retangular e, na metade superior, estão impressas as palavras "Eligio in Summum Pontificem", que significa "Eu elejo como Sumo Pontífice".
Abaixo, há um espaço reservado para o nome da pessoa que foi escolhida. Os cardeais têm a orientação de escrever o nome de maneira que não os identifique e dobrar o papel duas vezes. Após todos os votos serem dados, os papéis são misturados, contados e abertos.
À medida que os votos são contabilizados, um dos escrutinadores lê os nomes dos cardeais que foram votados. Ele perfura cada cédula com uma agulha, passando pela palavra "Eligio", e coloca todas as cédulas em um único fio. Depois, as cédulas são queimadas, gerando uma fumaça que é visível para os espectadores do lado de fora, sendo que essa fumaça muda de preta para branca quando um novo papa é eleito.
Era costume adicionar palha úmida para escurecer a fumaça, mas ao longo dos anos, houve frequentemente confusões sobre a coloração. Mais recentemente, um corante foi incorporado. Se uma nova votação ocorrer imediatamente, as cédulas da primeira votação são separadas e queimadas junto com as da segunda votação. Esse processo se repete até que um candidato alcance a maioria necessária.
Anúncio de um novo papa
Após a escolha do novo papa, que é indicada pela fumaça branca que sobe da chaminé da Capela Sistina, haverá um breve intervalo até que sua identidade seja compartilhada com o mundo.
Quando um candidato alcança a maioria necessária, ele é indagado: "Você aceita sua eleição canônica como Sumo Pontífice?"
Após seu consentimento, o novo papa é questionado: "Com qual nome você deseja ser chamado?"
Após a escolha do nome, os demais cardeais se aproximam do novo papa para prestar homenagem e obediência.
O novo papa também pode necessitar de ajustes em suas vestes. O alfaiate papal terá preparado trajes adequados para um papa de qualquer tamanho – pequeno, médio ou grande –, mas alguns ajustes de última hora podem ser exigidos.
Então, da sacada da Basílica de São Pedro, será proclamado o anúncio tradicional que ecoará pela praça: Annuntio vobis gaudium magnum... habemus papam !: "Anuncio a vocês uma grande alegria... temos um papa!"
Seu nome será então revelado, e o novo pontífice fará sua primeira aparição pública.
Após algumas palavras, o papa concederá a bênção tradicional de Urbi et Orbi – "à cidade e ao mundo" – e assim se inicia um novo pontificado.