PF investiga golpe no Caixa Tem que desviou mais de R$ 2 bilhões desde 2020

A Polícia Federal está investigando uma organização criminosa suspeita de ter desviado R$ 2 bilhões entre 2020 e 2025, utilizando o chamado Golpe do Caixa Tem. Os envolvidos na fraude teriam oferecido subornos a funcionários da Caixa Econômica Federal e de lotéricas para acessar dados de beneficiários do governo e retirar indevidamente o dinheiro de outras pessoas.
A Caixa Econômica Federal informou que está colaborando com as autoridades de segurança nas investigações e nas operações contra fraudes e golpes, além de monitorar constantemente seus produtos, serviços e transações para detectar atividades suspeitas.
O aplicativo Caixa Tem, que foi lançado em 2020 como uma poupança social digital para o pagamento do auxílio emergencial durante a pandemia de Covid-19, é utilizado para receber benefícios sociais do governo, além de permitir transferências, pagamentos via Pix e compras usando cartão de débito virtual.
Os criminosos obtêm acesso ao CPF e a outros dados pessoais dos beneficiários, que estão majoritariamente inscritos em programas sociais do governo federal, além de estarem no FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e no seguro-desemprego. Com essas informações, os golpistas contatam funcionários da Caixa e de lotéricas, oferecendo dinheiro em troca de informações confidenciais para acessar o Caixa Tem.
Quando os membros da organização criminosa conseguem acessar o aplicativo, eles se passam pelo verdadeiro beneficiário e desviam os fundos da conta da vítima, que precisa iniciar um processo na Caixa para contestar a movimentação e tentar recuperar o valor perdido.
Conforme informações da Polícia Federal, desde o lançamento do aplicativo Caixa Tem, em abril de 2020, foram contabilizados 749 mil processos de contestação feitos pelos beneficiários, resultando em cerca de R$ 2 bilhões restituídos pelo banco.
Keny Alcalde, de 39 anos e atuando na área de relacionamento com o cliente, conta que teve seu auxílio emergencial furtado por golpistas que usaram suas informações no aplicativo Caixa Tem, em junho de 2020, antes mesmo de ele abrir uma conta no serviço.
"No primeiro acesso eu já não consegui entrar no app, que eu nunca tinha instalado nem usado. Quando coloquei meus dados, o sistema disse que já existia um cadastro e que eu deveria fazer o login", conta.
Ela iniciou um processo de contestação na Caixa, e a partir desse momento, seu aplicativo foi bloqueado. "Várias semanas depois, veio a negativa da Caixa, disseram que não encontraram erro."
Um funcionário do banco a orientou a entrar com nova contestação, dizendo que haviam muitos relatos similares. "Inclusive, nas vezes que fui nas agências, todos os guichês em atendimento eram pela mesma razão."
Keny só conseguiu recuperar o montante após a segunda contestação que fez em novembro daquele ano. "Fiquei vários meses sem receber nada. Fiz empréstimo com conhecidos, fui trabalhar a pé, atrasei contas, foi um estresse que não acabava. Ansiedade financeira, além de todo o caos que a gente estava passando de trabalhar com público no meio da pandemia, sem ter vacina ainda."
A posição da Polícia Federal
Em 15 de abril de 2025, a Polícia Federal do Rio de Janeiro realizou 23 mandados de busca e apreensão nas cidades de Niterói, Rio de Janeiro, São Gonçalo, Maricá, Itaboraí, Macaé e Rio das Ostras, além de impor medidas cautelares a 16 indivíduos investigados.
Durante a operação, foram confiscados 20 celulares, seis notebooks, dois veículos e uma variedade de documentos. Os próximos passos incluem a realização de perícia técnica e análise para dar continuidade às investigações.
Os suspeitos podem ser responsabilizados por crimes como organização criminosa, furto qualificado, corrupção ativa e passiva, e inserção de dados falsos em sistemas de informação. As penas máximas desses crimes podem alcançar até 40 anos de prisão.
O QUE COMENTOU A CAIXA
A Caixa Econômica Federal, em declaração à Folha, informa que está sempre aprimorando seus critérios de segurança e que segue as melhores práticas do mercado, além de implementar as mudanças necessárias diante da ocorrência de fraudes.
O banco também afirma que informações confidenciais sobre crimes ocorridos em suas agências são comunicadas exclusivamente às autoridades policiais e reafirma sua total colaboração com as investigações dos órgãos competentes.
Para clientes que identificarem movimentações ou operações de FGTS que não reconhecem, a Caixa disponibiliza a possibilidade de solicitar uma contestação em qualquer agência do banco, mediante apresentação do CPF e de um documento de identificação.
"As contestações são analisadas, de forma individualizada e considerando os detalhes de cada caso e, para os casos considerados procedentes, o valor é ressarcido ao cliente", afirma.
O portal da Caixa oferece recomendações de segurança no site www.caixa.gov.br/seguranca.