Nova aliança entre União Brasil e PP começa com briga pelo comando

Folha de S. Paulo
Nova aliança entre União Brasil e PP começa com briga pelo comando Reprodução

Uma superfederação entre o PP e o União Brasil, que deve ser divulgada nesta terça-feira (29), busca um papel significativo na eleição presidencial e facilitar a formação de chapas para deputados. No entanto, ela já nasce com conflitos em diversos estados, gerando ameaças de desfiliação, além de desavenças na liderança. 

A proposta é estabelecer um rodízio na presidência, mas Antonio Rueda (União Brasil) pediu para ser o primeiro a ocupar o cargo, que já havia sido prometido ao ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP). Em virtude disso, parlamentares acreditavam na possibilidade de a federação ser anunciada sem a definição de um presidente. 

A nova sigla será chamada de União Progressista e exigirá que ambos os partidos trabalhem em conjunto nas eleições pelos próximos quatro anos. Caso haja um rompimento antes do tempo estipulado, eles ficam impedidos de formar uma nova aliança desse tipo com outros partidos por um período adicional de quatro anos.

A proposta é tornar-se o grupo mais influente no Congresso, com 109 deputados federais – quase 20 a mais do que o PL, atualmente a maior sigla da Câmara, que possui 92 parlamentares – e 14 senadores, empatado com PSD e PL. Este agrupamento também contará com a maior fatia dos fundos partidários e eleitorais, além de um considerável tempo de veiculação na propaganda eleitoral na TV e rádio. 

Com essa estrutura robusta, os líderes dessa nova agremiação acreditam que a superfederação terá condições de reivindicar um papel destacado na direita. O objetivo do presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), é disputar a vice-presidência em uma chapa liderada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), conforme indicado por seus aliados. 

Essa sigla também poderá solicitar uma participação maior no governo federal em 2027, independentemente de quem venha a ser o presidente, e se posicionar com mais força nas eleições para a presidência da Câmara e do Senado.



Rueda pretende liderar a federação durante o período em que será decidido quem comandará cada diretório estadual, sendo que ainda existem nove estados com impasse. Nos bastidores, Lira resiste e almeja ser o primeiro presidente.

De acordo com o acordo firmado, o PP ficará responsável por nove estados (incluindo Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina), enquanto o União Brasil terá outros nove (como Amapá, Goiás e Bahia). O critério adotado é o estado que possui governador e, em seguida, o que elegeu mais deputados federais em 2022. 

Esse modelo estabelece uma negociação inversa. Em vez de primeiro resolver os conflitos regionais para então formar a aliança, a superfederação em nível nacional será selada antes de se debater os problemas locais.


Um dos obstáculos é o Paraná, onde o ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União Brasil) planeja disputar o governo estadual em 2026. No entanto, o PP integra a base aliada do governador Ratinho Júnior (PSD) e tem a intenção de apoiar o sucessor que ele escolher.

"Nem começamos a conversar [sobre uma solução], para ser honesto", disse o deputado federal Ricardo Barros (PP), ex-líder do governo Jair Bolsonaro na Câmara. "Os estados que ainda não tem acordo vão aguardar, serão chamados depois da federação. Paciência".

Assim como no Paraná, outros oito estados também terão suas lideranças decididas posteriormente, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro, visando evitar que conflitos internos afetem a aliança nacional. Há disputas mais acirradas, como nas candidaturas ao governo do Acre e da Paraíba, onde PP e União Brasil se enfrentam como os principais concorrentes em chapas opostas.

A cúpula da "União Progressista" promete que a presidência do diretório será ocupada por quem demonstrar ter o projeto eleitoral mais viável até março de 2026. Aqueles que não forem escolhidos terão a opção de se retirar, mas isso significará entregar toda a estrutura partidária ao concorrente.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que se declarou pré-candidato à Presidência da República, também adiou a decisão em relação à federação, pois acredita que o PP já se comprometeu a apoiar o ex-presidente Bolsonaro (PL) ou seu indicado. 

Para evitar que haja uma saída antecipada ou que a aprovação da aliança no diretório nacional enfrente obstáculos, Caiado recebeu a garantia de apoio oficial da superfederação, caso consiga alcançar mais de 10% nas pesquisas em março de 2026. Se não obtiver esse resultado, ele terá que desistir em favor de outro candidato com melhores perspectivas.

O adiamento da decisão também repassa para 2026 a escolha dos congressistas sobre continuar em seus partidos ou migrar para outras legendas. Dos 109 deputados federais que integrariam a superfederação, mais de 20 já foram abordados com propostas e estão considerando mudar de partido para a eleição, de acordo com líderes de outras siglas.


A proposta de criação da superfederação necessita da aprovação das Executivas nacionais dos partidos, e há uma preocupação entre os insatisfeitos de que não haja votos suficientes quando os impactos da mudança se tornarem evidentes. Além disso, o União Brasil enfrenta disputas internas entre seus três grupos: um liderado por Rueda, outro pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP) e um terceiro por Caiado/ACM Neto, que tendem a ser mais próximos da oposição. Esses conflitos já levaram o líder do partido na Câmara, deputado Pedro Lucas Fernandes (MA), a desistir da possibilidade de se tornar ministro.


Na noite de segunda-feira (28), a bancada do União Brasil na Câmara confirmou sua adesão à federação. O apoio foi unânime, mas alguns deputados levantaram reservas sobre o acordo e indicaram que ainda estão avaliando a continuidade no partido. Outra decisão que ainda está pendente é a ruptura com o presidente Lula (PT). As duas legendas mantêm participação no governo, mesmo declarando que não apoiarão sua reeleição. O União Brasil conta com três ministros: das Comunicações, do Turismo e do Desenvolvimento Regional, enquanto o PP indicou o ministro do Esporte e ocupa a presidência da Caixa Econômica Federal.

Ainda nesta terça-feira, o PSDB deve votar a fusão com o Podemos em sua executiva, numa tentativa de se adaptar à cláusula de desempenho e apresentar uma nova alternativa de "terceira via" contra Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O nome da nova sigla ainda não foi definido, mas, provisoriamente, será chamado de PSDB+Podemos.


Abaixo, exemplos de divergências regionais:

Acre: O comando da federação ficará a cargo do governador Gladson Cameli (PP), que planeja promover a vice, Mailza Assis (PP), como sua sucessora em 2026; nesse caso, o senador Alan Rick (União Brasil) poderá ver sua candidatura ao governo do estado barrada, caso permaneça na federação.

Paraíba: O senador Efraim Filho (União) e o vice-governador Lucas Ribeiro (PP) são pré-candidatos ao governo do Estado; um deles terá que desistir ou se retirar da federação.

Bahia: O PP local está se preparando para se unir ao grupo do governador Jerônimo Rodrigues (PT), que é opositor do União Brasil no estado, liderado pelo ex-prefeito Antonio Carlos Magalhães Neto.






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